Como a Sociedade Atual se Tornou Cada Vez Mais Estressada com os Avanços Tecnológicos
- André Voss
- 9 apr
- Tempo di lettura: 3 min
Nos últimos anos, os avanços tecnológicos transformaram profundamente a forma como nos relacionamos, trabalhamos e vivemos. Se por um lado essas inovações trouxeram benefícios indiscutíveis — como a conectividade global e o acesso imediato à informação —, por outro, têm contribuído significativamente para o aumento do estresse na vida contemporânea. Especialistas em saúde mental têm chamado atenção para o impacto que a tecnologia exerce sobre o bem-estar psíquico, especialmente quando utilizada de forma constante, ininterrupta e acrítica.
A psicanálise nos convida a pensar que o estresse, muito além de uma simples reação do organismo à sobrecarga, pode ser lido como um sintoma do sujeito inserido em um discurso social. Trata-se de um sinal que denuncia algo do mal-estar frente às exigências cada vez mais aceleradas do mundo atual. A cultura digital, ao impor um regime contínuo de disponibilidade, alimenta uma lógica de urgência em que o sujeito se vê convocado a estar sempre acessível — a responder, a produzir, a estar presente, mesmo na ausência de desejo.
O uso intensivo de dispositivos móveis, e-mails e plataformas digitais instaurou uma vivência psíquica marcada por interrupções constantes. O tempo do sujeito, já fraturado por múltiplas demandas, torna-se fragmentado. Não há mais espaço para o tédio, para a pausa, para a elaboração. A aceleração imposta pelo meio tecnológico intensifica a sobrecarga mental, levando a um estado de alerta contínuo que, a longo prazo, pode desencadear sintomas ansiosos, depressivos ou compulsivos.
As redes sociais operam como vitrines simbólicas onde se projetam ideais de vida e de corpo que, muitas vezes, geram angústia e sentimento de inadequação. A comparação constante, mesmo que silenciosa, reforça a ideia de que é preciso estar à altura de um padrão inatingível — mais belo, mais produtivo, mais feliz. A consequência subjetiva pode ser o esvaziamento do desejo próprio e o aumento do sofrimento psíquico, sustentado por uma constante sensação de fracasso.
O trabalho remoto, facilitado pela tecnologia e intensificado após a pandemia, trouxe novas formas de organização do cotidiano, mas também diluiu os limites entre vida profissional e pessoal. A casa tornou-se extensão do escritório; os horários de trabalho, por vezes, se estendem indefinidamente. O sujeito, sem fronteiras claras, perde o referencial do descanso. Não há tempo fora do tempo. E é nesse espaço rarefeito que o esgotamento encontra terreno fértil.
Além disso, a exposição constante a uma avalanche de informações — muitas vezes alarmistas ou conflitantes — mobiliza uma angústia permanente. A psicanálise nos ensina que o sujeito não lida bem com excesso: o excesso de sentido, o excesso de imagens, o excesso de presença. A saturação informacional, típica da era digital, pode gerar um tipo de paralisia subjetiva, onde tudo parece urgente demais para ser simbolizado.
Paradoxalmente, é a própria tecnologia que também oferece ferramentas para lidar com esse mal-estar: aplicativos de meditação, plataformas de escuta terapêutica, programas de relaxamento. No entanto, é fundamental que essas ferramentas não se tornem apenas mais uma forma de controle ou produtividade. O cuidado com a saúde mental precisa incluir a escuta daquilo que escapa à lógica do desempenho.
O desafio contemporâneo não é rejeitar a tecnologia, mas questionar a forma como ela se participa de nosso cotidiano. Estabelecer limites, cultivar o tempo de descanso, priorizar vínculos reais e retomar o contato com o próprio desejo são formas possíveis de resistir ao imperativo da hiperconexão. Nesse cenário, a psicanálise se apresenta como um espaço onde o sujeito pode sustentar sua singularidade.
Referências:
VEJA. Excesso de redes sociais está associado a 45% dos casos de ansiedade em jovens. 15 nov. 2024. Disponível em: https://veja.abril.com.br/saude/excesso-de-redes-sociais-esta-associado-a-45-dos-casos-de-ansiedade-em-jovens/
DEEL. O trabalho remoto e a síndrome de burnout. 2024. Disponível em: https://www.deel.com/pt/blog/sindrome-burnout-trabalho-remoto/
CNN Brasil. Saúde mental dos brasileiros pós-pandemia é uma das piores do mundo. 2024. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/saude-mental-dos-brasileiros-pos-pandemia-e-uma-das-piores-do-mundo/
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG). Uso excessivo de telas está associado à saúde mental de diferentes gerações. 2023. Disponível em: https://www.medicina.ufmg.br/uso-excessivo-de-telas-esta-associado-a-saude-mental-de-diferentes-geracoes/
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