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Fobias: Compreendendo o Medo e Sua Relação com a Sociedade

Aggiornamento: 17 apr

Embora o termo “fobia” seja frequentemente usado de forma genérica no cotidiano — às vezes como sinônimo de medo exagerado ou aversão —, na clínica psicanalítica ele assume um lugar específico e relevante. Trata-se de um fenômeno que, apesar de parecer estranho ou irracional para quem observa de fora, é uma forma muito particular de organização do psiquismo diante da angústia.​


Fobias são mais comuns do que se costuma imaginar. Estima-se que cerca de 6% a 8% da população mundial sofra com algum tipo de fobia específica, como medo de voar, de altura, de animais, de espaços fechados ou multidões.  No entanto, esses dados estatísticos pouco dizem sobre a complexidade psíquica que se expressa por meio de um sintoma fóbico.​Wikipedia


Do ponto de vista psicanalítico, a fobia é uma forma de defesa. Em vez de se apresentar como angústia difusa, o conflito psíquico se organiza em torno de um objeto ou situação bem delimitada, que passa a concentrar o afeto angustiante. A criança que desenvolve medo de um animal, por exemplo, pode estar deslocando para esse objeto algo de um conflito mais profundo com a separação, com a ausência da figura materna ou com ameaças simbólicas mais difíceis de nomear. A fobia, nesse sentido, protege o sujeito de algo que não consegue enfrentar diretamente.​


Freud já observava a importância da fobia como mecanismo de defesa ao estudar o caso do pequeno Hans — um menino de cinco anos que desenvolveu medo de cavalos. A análise demonstrou que o animal temido funcionava como substituto simbólico da figura paterna, com a qual o menino vivia um conflito ligado ao complexo de Édipo. A fobia, portanto, permitia uma organização do mundo psíquico e, de certa forma, evitava uma angústia ainda maior.​


Nos adultos, as fobias podem se apresentar das mais variadas formas: medo de elevadores, de falar em público, de multidões, de determinados sons, de dirigir. Muitas vezes, esses medos são racionalizados ou contornados com estratégias de esquiva. O sujeito pode, por exemplo, evitar reuniões presenciais, recusar viagens ou mudar sua rotina para não entrar em contato com o objeto fóbico. Embora essas estratégias ofereçam alívio temporário, também podem comprometer significativamente a qualidade de vida.​


É importante destacar que a fobia não é um sinal de fraqueza ou de desequilíbrio. Ao contrário, é uma construção subjetiva complexa, que deve ser escutada e compreendida. Ao tratar uma fobia, a proposta da psicanálise não é eliminar o medo por meio da exposição forçada ou da supressão do sintoma, mas permitir que o sujeito possa significar o que esse medo representa em sua história.​


A escuta analítica oferece ao paciente um espaço para associar livremente, ligar ideias, recuperar memórias e construir sentidos. Assim, pouco a pouco, o sintoma fóbico deixa de ocupar o lugar central no funcionamento psíquico. Não se trata de “curar o medo”, mas de permitir que o sujeito encontre outras formas de lidar com aquilo que antes precisava ser deslocado para um objeto externo.​


Fobias são mais comuns do que se imagina — e menos misteriosas do que parecem. São formações do inconsciente, construídas como soluções provisórias para conflitos internos. E, como todo sintoma, carregam um saber sobre o sujeito. Cabe à psicanálise escutar esse saber e, a partir dele, acompanhar o sujeito na direção de sua própria transformação.​


Referências:


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